quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Deus e os homens

Nos últimos dias li várias vezes sobre o terremoto de Lisboa, que teria levado muita gente ao ateísmo na Europa do século XVIII. Bobagem. O século XVIII é o século do Iluminismo, quando o homem pretendia ter todas as respostas pela razão e, assim, se tornou ateu. O terremoto de Lisboa foi apenas um pretexto para quem queria ser ateu porque estava cego pela razão.

O terremoto do Haiti dói muito na nossa consciência. É assustador, é aterrorizante constatar a pequenez do homem diante da natureza. É mais um motivo para nos aproximarmos de Deus, como os haitianos estão fazendo. Não deve ser tomado como pretexto para abandonarmos Deus, como quer a frieza dos europeus e sua civilização que já perdeu o sentido justamente por se afastar da sua história, que é a história da cristandade.

Conheço bem a ideologia portuguesa na época do terremoto de Lisboa (1755). Os governantes pretendiam ter mais luzes do que os criadores do Iluminismo, na França. O Marquês de Pombal reconstruiu Lisboa, que tinha caído por terra, mas não foi preciso reconstruir a grandeza espiritual do povo português quando se acabou sua tirania ilustrada. O homem português sempre foi grande interiormente.

Assim hoje com o Haiti. Levantamos as mãos aos céus. Clamamos a Deus, e mesmo contra Deus. A nossa fraqueza humana não consegue suportar tamanha dor. Chegamos a culpar Deus, que permite sofrimento assim terrível. É mesmo saudável tal comportamento: revela-nos quem somos, faz-nos refletir, reconhecer a nossa miséria e, enfim, a nossa extrema necessidade de Deus.

O Livro de Jó nos ensina que o sofrimento vem para todos, tanto para os maus como para os bons. O homem tem o direito de ser teimoso e impaciente como Jó, mas não de se afastar de Deus. Quem nega Deus não vê nenhum sentido na vida. Pode se considerar um grande intelectual por seu racionalismo, mas não deixará de ser um grande infeliz.

O Haiti foi condenado à miséria por seus governantes e pelo bloqueio econômico dos outros países há décadas. Agora o mundo inteiro quer salvá-lo, quando sempre foi preciso salvá-lo da ganância e corrupção dos políticos locais e universais. Apenas nessas horas extremas os homens descobrem a fraternidade? Os haitianos continuam nobremente religiosos, não foi preciso um terremoto para descobrirem a extrema necessidade de Deus.