sábado, 25 de setembro de 2010

Em alguma parte alguma

Uma pedra é uma pedra


uma pedra

(diz

o filósofo, existe

em si,

não para si

como nós)

uma pedra

é uma pedra

matéria densa

sem qualquer luz

não pensa

ela é somente sua

materialidade

de cousa:

não ousa

enquanto o homem é uma

aflição

que repousa

num corpo

que ele

de certo modo

nega

pois que esse corpo morre

e se apaga

e assim

o homem tenta

livrar-se do fim

que o atormenta

e se inventa



Toada à toa


A vida, apenas se sonha

que é plena, bela ou o que for.

Por mais que nela se ponha

é o mesmo que nada por.

Pois é certo que o vivido

- na alegria ou desespero –

como o gás é consumido...

Recomeçamos de zero.



Off price


Que a sorte me livre do mercado

e que me deixe

continuar fazendo (sem o saber)

fora de esquema

meu poema

inesperado

e que eu possa

cada vez mais desaprender

de pensar o pensado

e assim poder

reinventar o certo pelo errado



Nem aí...


Indiferente

ao suposto prestígio literário

e ao trabalho

do poeta

à difícil faina

a que se entrega para

inventar o dizível,

sobe à mesa

o gatinho

se espreguiça

e deita-se e

adormece

em cima do poema




Perplexidades


a parte mais efêmera

de mim

é esta consciência de que existo

e todo o existir consiste nisto

é estranho!

e mais estranho

ainda

me é sabê-lo

e saber

que esta consciência dura menos

que um fio de meu cabelo

e mais estranho ainda

que sabê-lo

é que

enquanto dura me é dado

o infinito universo constelado

de quatrilhões e quatrilhões de estrelas

sendo que umas poucas delas

posso vê-las

fulgindo no presente do passado

________

Nenhum comentário:

Postar um comentário