terça-feira, 23 de novembro de 2010

O bode chupando manga




O BODE CHUPANDO MANGA

Coisa boa para se ver
num fim de tarde, de sol
queimando até os miolos
é bode chupando manga.

Espada, rosa, coquinho,
manteiga, formiga, ubá,
não escolhe qualidade
o bode chupando manga.

Na avenida, na sarjeta,
vai sério, compenetrado,
o rabo espantando moscas,
o bode chupando manga.

Não existe ocupação
mais séria, mais responsável,
nesta humana condição
que bode chupando manga.

Chamem o prefeito, o juiz,
com o padre e o delegado,
vejam se é crime ou pecado
um bode chupando manga.

Olhem que calamidade,
cuidado, é o fim do mundo,
coisas estranhas sucedem:
um bode chupando manga.

Venham todos admirar
fato nunca imaginado
nesta vida e outra invenção:
um bode chupando manga.

A origem do universo
e o fim de todas as coisas,
nada importa tanto quanto
o bode chupando manga.

A metafísica, o nada,
a náusea, a dor de existir
se evaporam no ar diante
do bode chupando manga.

As guerras, fome, doença,
a destruição do planeta,
tudo se esquece observando
o bode chupando manga.

Fora gregos e romanos,
os poetas e os poetastros
que outro valor se alevanta:
o bode chupando manga.

Humoristas de plantão,
fujam de medo e vergonha:
maior piada não há
que o bode chupando manga.

José Carlos Mendes Brandão

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