segunda-feira, 29 de novembro de 2010
O poema
O POEMA
O poeta levou a concha ao ouvido
e ouviu o mar, um mundo submarino
familiar e longínquo como o fim do mundo.
As gaivotas vieram das brumas do horizonte
e pousaram nos ombros do poeta.
Navios resfolegavam como cães cansados,
subiam e desciam entre os vagalhões.
O poeta está sentado à mesa da cozinha
ouvindo o apito do trem como se fosse um navio
se aproximando.
Olha pela janela as estrelas
caindo.
Aperta as estrelas no punho fechado.
O relógio está parado.
O poema explode,
o poema mede o tempo com a sua bússola
de sal, um tempo diferente do tempo dos homens,
semelhante ao tempo de Deus.
Depois, o silêncio.
(O poema se alimenta de silêncio e solidão
como os homens.)
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José Carlos Mendes Brandão, nov./2010
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